terça-feira, 13 de abril de 2010

Tratamento rápido é essencial em casos de gripe suína em grávidas

Ao apresentar sintomas, gestante tem que ir imediatamente ao médico


Wilton Junior/AEFoto por Wilton Junior/AE
Grávida toma vacina para se prevenir; vacinação para gestantes acaba nesta semana

Um novo surto de Influenza A (H1N1) - popular gripe suína - é esperado no Brasil para o próximo inverno. Junto com ele vem o medo das pessoas de se infectarem, em especial das grávidas. A doença causou número expressivo de mortes em 2009. Segundo levantamento do Ministério da Saúde, a mortalidade em gestantes foi 50% maior que na população geral em 2009. Em 2010, 20% dos casos graves registrados até 3 de abril ocorreram com gestantes, 74 ao todo. No mesmo período, 16 morreram, número equivalente a 32%.

Este receio ficou ainda mais evidente pela baixa adesão à segunda etapa de vacinação contra a gripe suína, que precisou ser prorrogada. Nela estava focada gestantes, crianças de seis meses a dois anos e doentes crônicos.

Para tirar estas dúvidas, obstetra e um infectologista. Assim como o Ministério da Saúde, os especialistas são favoráveis à vacinação de grávidas em qualquer momento da gestação, assim como pelo tratamento com o oseltamivir (Tamiflu) se a gestante apresentar a SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave).

Segundo o ginecologista e obstetra Alexandre Pupo Nogueira, do hospital Sírio-libanês, o primeiro passo da gestante é descobrir se realmente está com a gripe suína. Para isso, deve contar com seu médico obstetra que vai avaliar os sintomas e pedir, se for o caso, exame laboratorial.

- A paciente que apresentar sintomas gripais ou da suína entre imediatamente em contato com seu médico que, a partir daí, vai decidir se vai encaminhar para um serviço para fazer o diagnóstico ou observar, ou se vai encaminhá-la para um infectologista.


Para o médico, a gripe suína em grávidas deve ser vista com cuidado, mas sem alarde, pois, segundo ele, a mortalidade de gestantes pela gripe comum é maior do que pela vírus da gripe A (H1N1).

Se a gestante apresentar febre acima de 38,5º C, dores no corpo e na cabeça e tosse seca, mas não muito pronunciada, está na hora de ser avaliada pelo seu médico. Essa é a dica do infectologia Gustavo Johanson, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Confirmado o diagnóstico, segundo o infectologista, a gestante tem que ficar em observação e ser internada imediatamente se tiver sintomas mais graves, principalmente se for um quadro de SRAG. Já se não for necessariamente grave, não há necessidade de internação.
- A comparação é feita só em laboratório. Mas o médico só tem que solicitar o teste se a gestante apresentar a Síndrome Respiratória Aguda Grave.
A gestante está mais suscetível ao vírus do que boa parte da população, pois apresenta uma imunidade mais baixa em decorrência da gravidez. Qualquer reação inflamatória, não somente a do vírus H1N1, portanto, são perigosas para a mulher grávida, explica Nogueira. A boa notícia, entretanto, é que não há indícios que comprovem a passagem do vírus para o bebê.

De todo modo, o mais indicado é se prevenir. Segundo os médicos, a gestante deve evitar ir a locais com grandes aglomerações durante a gravidez e tomar a vacina. Se antes, a gripe aparecer, não há motivos para pânico, segundo o infectologista.

- Na grande maioria das grávidas o vírus não evolui de forma grave. Por isso não há o que temer.

Tratamento

A Febrasgo (Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia) lançou um protocolo de atendimento às gestantes com quadro suspeito de SRAG, no qual explica os procedimentos que devem ser adotados em grávidas doentes.

Um deles explica que se a grávida se queixar de gripe ou resfriado, o médico que for examiná-la deve usar uma máscara cirúrgica e colocar uma no rosto da paciente. Se ela apresentar febre alta, tosse, dor de garganta e/ou falta de ar, aversão a luz, dores nas articulações e nos músculos, ardência ocular e mal-estar, há indicação do uso do Tamiflu, de 75 mg, de 12 em 12 horas, por cinco dias. Em seguida, deve-se definir a gravidade e necessidade de internação ou não.

Se a febre estiver acima de 38ºC, a pressão baixa, tiver tosse, falta de ar, nível de oxigênio no sangue menor do que 94% e frequência respiratória maior do que 25 movimentos por minuto, significa gravidade e deve-se recorrer a internação. Caso contrário, basta tomar o Tamiflu, ficar em casa de repouso e só retornar ao hospital se sentir piora depois de 48 horas, deve tomar o antibiótico Azitromicina.

A gestante deve usar a máscara mesmo no trabalho de parto e depois do nascimento, manter o uso quando o bebê estiver próximo, assim como manter as mãos lavadas e as roupas trocadas. Durante a internação, pode-se considerar o afastamento do recém-nascido por 48 horas.

O leite materno não é um potencial transmissor. O bebê pode ser alimentado com ele, desde que seja retirado o leite das mamas e dado ao recém-nascido em um recipiente a parte.

Se o bebê estiver infectado, terá de receber os mesmos cuidados para o controle da infecção durante a internação. O Tamiflu só é liberado para pacientes com mais de um ano de idade. Não é recomendado o uso em crianças com menos de três meses.

Saiba mais

Empresária grávida sobreviveu
à gripe suína depois de 12 dias internada


Diagnóstico foi dado aos sete meses de gestação; hoje ela curte seu primeiro filho


A empresária Rosana Guimarães de Araújo, 33 anos, então grávida de sete meses, recebeu a confirmação de infecção pelo vírus da Influenza A quando já estava na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do hospital e maternidade Santa Joana, em São Paulo. Em menos de três dias, o diagnóstico de sinusite, dado pelas dores nos olhos e no nariz, transformou-se um uma pneumonia violenta, deixando Rosana com muita taquicardia, falta de ar e de voz. No mesmo dia que foi levada de ambulância para o hospital, ficou internada com suspeita do vírus. Era 9 de julho de 2009.

- Fui uma das primeiras grávidas com a gripe. Ninguém sabia ao certo como proceder. O Ministério da Saúde mandava uma carta todo dia para os médicos da UTI falando o que eles tinham que fazer.
Soube em três dias o diagnóstico de gripe suína, porque o próprio ministério pediu urgência no resultado. Rosana ficou nove dias na UTI entre os 12 que permaneceu no hospital. Lá ficou sendo monitorada o tempo todo.
- Fazia muitos exames por dia, fisioterapia pulmonar, e tomava o Tamiflu, além de mais dois ou três antibióticos. Todos os dias, umas três e quatro vezes, eles também examinavam se o coração do bebê estava batendo.
Ao sair do hospital, a empresária ainda estava debilitada, com a placenta endurecida por causa da quantidade de remédios que tomava. Com o perigo do nascimento prematuro, teve de abandonar o emprego e ficar em casa de repouso absoluto. Até seu marido pegou a gripe, mas curou-se rápido tomando remédios para a gripe comum. Com base em anti-inflamatórios foi melhorando até ficar curada.

Rosana admite que sentiu muito medo de morrer e de perder o bebê, seu primeiro, mas afirma que a determinação em viver pelo filho foi além.

- Dá muito medo. Na hora você tem que se apegar na fé e acreditar muito no seu médico. O meu obstetra ia me ver direito, me deu todo apoio moral. Para quem pega [a gripe], o que eu posso dizer é para ter fé e lembrar que tem um bebezinho que depende de você.




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